quinta-feira, setembro 09, 2010

estou cansada de uma certa atitude impregnada

A imaginação escassa e um certo realismo subjetivo andam impregnando a literatura - não só a literatura, mas diversas áreas - assuntos concentram-se praticamente em: sexo, droga, violência, angústia, descontentamento pessoal.

Prefiro os que escrevem porque a vida é um romance. Parece que estes, ao menos, sentem algum desconforto; seguem o fluxo oposto da maré, ou possuem algo íntegro como a dedicação a um projeto. Uma ambição maior que o próprio umbigo.

Nada mais choca num ambiente em que violência é o cotidiano. A imagem da criança atrelada a um revólver chega a ser comum. O saco de cola fica até como cena de segundo plano. A política não se divide mais em direita e esquerda. Heróis já morreram de overdose há mais de duas décadas. Ideologia é nostalgia. Enfim, o que está fora dos padrões?

Tecnologia? Talvez uma das raras coisas que mude parte de nossas rotinas. Distâncias passam a ser insignificantes; possibilidades, infinitas; conexão, uma exigência. Uma evolução fenomenal que, ao mesmo tempo, aproxima e afasta as pessoas, prende-as em si mesmas, em seus mundinhos. Um movimento paradoxal. Por um lado, o ganho de formas de contato, por outro, perda do contato real. E por estranho que pareça, contato com os que estão mais perto: vizinhos, família. Um individualismo valorizado e desconectado.

Já ouvi de autores de hoje: “Escrevo porque preciso”. Precisa?
Do que nós precisamos realmente hoje?

Os valores e necessidades estão conturbados, confundidos pelo mercado, pela mídia, pelo não parar, não pensar; pela falta de genuinidade, por uma velocidade que anda fazendo com que até a Terra gire mais rápido em volta de seu eixo. Eixo: é com esta conexão que precisamos nos preocupar. Acho que escrever não é sobreviver. Para começo de história, precisamos de ar, água e comida.