A literatura anda impregnada de certo realismo subjetivo contemporâneo, que, além de carregar imaginação escassa – um mal que atinge o mundo em diversas áreas - concentra-se praticamente nos mesmos assuntos: sexo, drogas, violência, angústias, descontentamentos pessoais.
Nada mais choca num ambiente em que violencia é cotidiano. A imagem da criança atrelada a um revolver chega a ser comum. O saco de cola fica até como cena de segundo plano. A política não se divide mais em direita e esquerda. Heróis já morreram de overdose há mais de duas décadas. Ideologia é nostalgia. Enfim, o que está fora de padrões?
Tecnologia? Esta é a inovação do mundo atual, talvez uma das raras coisas que mude parte de nossos padrões. Distâncias passam a ser insignificantes; possibilidades, infinitas; conexão, uma exigência. Uma evolução fenomenal que, ao mesmo tempo, aproxima e afasta as pessoas, prende-as em si, em seus mundinhos. Um movimento paradoxo. Por uma lado, o ganho de formas de contato, por outro, a perda do contato real. E por estranho que pareca, com os que estao mais perto, vizinhos, familia. Um individualismo valorizado e desconectado.
Já ouvi de autores de hoje: “Escrevo porque preciso”. Precisa?
Do que nós precisamos realmente hoje?
Os valores e necessidades estão conturbados, confundidos pelo mercado, pela tecnologia, pela mídia, pelo não parar, não pensar, pela falta de genuinidade, por uma velocidade que anda fazendo com que até a Terra gire mais rápido em volta de seu eixo. Eixo: é com esta conexão que precisamos nos preocupar. Acho que escrever não é sobreviver. Para começo de história, precisamos de ar, água e comida.
Prefiro os que escrevem porque a vida é um romance. Parece que estes, ao menos, sentem algum desconforto; seguem o fluxo oposto da maré, ou possuem algo íntegro como a dedicação a um projeto. Uma ambição maior que o próprio umbigo.
Ficaria mais preenchida com autores menos gentis, ou, quem sabe, cansados de mentir para conviver. As pessoas, ultimamente, não têm mais tempo para se incomodar.
Já gosto quando encontro algum tipo de percepção sutil.