sexta-feira, maio 30, 2008

Proposta:
Escrever sobre Harumi, uma personagem inventada por um grupo de escritoras.
Harumi trabalha em um laboratório de química, casada com Diego, um espanhol. Possui 2 filhos, sua família tem casa em Ibiúna, enfim é mais uma mulher comum que vive em São Paulo.

HARUMI
Diego, marido de Harumi, chega em casa com um sorriso e tanto, como há tempos não se via. Abre uma garrafa de vinho, o seu melhor vinho. Harumi, com cara de desentendida, retruca antes mesmo de querer saber o motivo do desperdício, numa segunda-feira à noite. Para que Diego faz este alvoroço num dia tão normal? E, ainda, resolve chamar os filhos, Juan e Ayumi, que finalmente haviam conseguido sair de frente da tv para estudar um pouco.
Diego diz que quer comemorar. Harumi, ironicamente, pensa: comemorar o quê? Só se forem minhas unhas novas, esmalte licor. Acha melhor não falar. Afinal, não pega bem tirar sarro do marido em frente às crianças. Seu marido ganhou o segundo maior bônus de sua empresa; é a primeira vez que um funcionário do RH ganha um bônus como esse. O vinho é aberto, bastante frutado e desfrutado, principalmente, por Juan e Ayumi que não costumam beber com os pais.
Realmente, uma boa notícia, mas é tarde e amanhã a semana continua. Harumi fica à espera de Diego no quarto. Não, não é para agarrá-lo e comemorar a notícia, ninguém mais é adolescente há tempos. É para discutir o destino que este dinheiro tomará. É importantíssimo que ele tenha um bom uso; deixá-lo na mão de Diego certamente terá fim em porcarias.
A discussão começa: uma viagem, carro novo, uma casa de campo, fundos de investimento... Difícil escolher. Viagem só serve para gastar dinheiro; é bom na hora, mas não sobra nada. Carro novo? Os que estão aí estão tão bons. Fundos de investimento: não se verá a cor do dinheiro, até que ele renda e fique para os netos. É... sobra a casa de campo, uma feliz idéia já que Harumi tem família com casa em Ibiúna, interior de São Paulo, onde sobra um terreno.
Diego não é uma pessoa de temperamento forte. Concorda a casa e achar muito gostoso que tenham um refúgio para os finais de semana.
Decisão tomada, a construção começa. A casa terá churrasqueira, forno de pizza, todos os detalhes que Diego deseja. Essas besteiras não são grandes preocupações para Harumi; ela acaba se animando um pouco para pensar na decoração dos quartos, da cozinha, sala e de uma modesta adega para guardar seus vinhos. Também, quem faria isso se não fosse ela?
Nossa, até parece começo de casamento. Juan e Ayumi adoram, pois os pais estão muito ocupados para pegar no pé deles. Mas o clima de recém-casados dura apenas até a obra começar a dar problemas. Pedreiros atrasam, encanamento complica-se e os preços de materiais de construção: um absurdo!
Os filhos não agüentam mais ouvir a mãe colocar a culpa no pai e o pai dizer que aquilo era tarefa da mãe. Construir casa é um pé no saco! Tantas tarefas para se preocupar na vida: trabalho, filhos e mais uma casa em construção para completar...
Já é junho. Como o ano voa! O jeito agora é pegar o feriado de Corpus Cristi e se concentrarem na finalização da construção. Diego e Harumi vão para Ibiúna; instalam-se na casa dos irmãos dela. Os filhos aproveitam e vão para praia com os amigos. Melhor assim, tempo integral para o casal resolver detalhes. Foi bom para salvar o último pingo da empolgação que restava. A casa ficará pronta no início de outubro, sem falta.
Outubro, a casa em Ibiúna pronta. Toda família intimada a passar a semana de saco-cheio na nova casa de campo. Tempo lindo, todos com protetor solar, afinal, não dá para descuidar da pele. Juan e Ayumi aproveitam a piscina, mesa de pingue-pongue, amigos da casa vizinha. Diego, quem diria, fissurado por receitas de pizza...E Harumi pensa duas vezes antes de encher o terceiro copo de vinho.
Ninguém, nem mesmo ela, percebe que anda fazendo pequenas coisas para se enganar do tédio automático incorporado em sua nova rotina.


terça-feira, maio 13, 2008